então, eu era mar:


mar daquele que é mergulhante

você pode até entrar,

mas não sabe como será 

quando for mais profundo

mesmo estando na arrebentação

ainda sim,

é perfeito para quem tem coragem de (a) mar

afinal, é mais violento

e tem o vento vindo da terra;

mar daquele que é deslizante

você pode até entrar,

mas precisa saber que

ainda está longe da calmaria

precisa saber que 

o turbilhão é no começo

e, 

mais adentro você perde-se

um pouco do orgulho

assim, 

sendo mais suave 

a raiva e orgulho, 

as dores e lágrimas,

a euforia vai dando lugar 

aos olhares intensos 

como a espessura das espumas

que formam e vem até a orla

além disso,

tem o vento vindo do profundo, 

de dentro,

do âmago,

do coração;

mar daquele que é ascendente

você consegue ver 

quando ocorre uma inclinação

provavelmente,

quando a inclinação é por alguém,

desse modo,

a euforia começa ficar calmaria

parece que o sentimento esfriou

mas, na verdade,

dependendo do que tiver no fundo 

seja o maior possível

o maior sentimento possível

e, 

evitando que se quebre

tão abruptamente

como em outros momentos

logo, 

a lentidão 

que faz um pouco mais de calmaria 

dá espaço para o amor 

depois da avassaladora euforia da paixão

mesmo que isso ocorra,

ainda é possível ver o confronto 

entre o que está indo e o que está chegando

é possível sentir as variações 

e,

talvez se sinta quase sempre

dependendo do dia

do vento

da profundidade 

do amor que se constrói

e quer ser conquistado.


st.

então, eu era mar.

2023.


texto dedicatória.

texto publicado no blog Praça do Leitor da Folha de São Paulo.

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